A Teologia da Nova Aliança: Cumprimento das Promessas do Antigo Testamento em Cristo Jesus



A Teologia da Nova Aliança é um tema central no cristianismo, que explora a relação entre o Antigo e o Novo Testamento, demonstrando como as promessas e alianças do Antigo Testamento encontram seu cumprimento pleno em Cristo Jesus. Esta perspectiva teológica enfatiza que o Antigo Testamento é a promessa, enquanto o Novo Testamento é o cumprimento pleno e cabal dessa promessa em Cristo. Neste  artigo buscaremos abordar essa relação, destacando a interpretação do Antigo Testamento à luz do Novo Testamento e como as promessas e alianças apontam para Cristo e se cumprem nele. Além disso, analisaremos como a Igreja é vista como o Israel espiritual, com base nas epístolas paulinas.

Promessas e Alianças no Antigo Testamento

O Antigo Testamento é repleto de promessas e alianças que Deus fez com Seu povo. Entre as mais significativas estão a aliança com Abraão, a aliança mosaica e a aliança davídica.

1. Aliança com Abraão: Deus prometeu a Abraão que ele seria pai de uma grande nação e que através dele todas as nações da terra seriam abençoadas (Gênesis 12:2-3). Esta promessa é vista como um prenúncio da bênção universal que viria através de Cristo.

2. Aliança Mosaica: A aliança estabelecida no Monte Sinai deu ao povo de Israel a Lei e estabeleceu Israel como o povo escolhido de Deus (Êxodo 19-24). Esta aliança, no entanto, apontava para a necessidade de um Salvador que cumprisse perfeitamente a Lei.

3. Aliança Davídica: Deus prometeu a Davi que seu trono seria estabelecido para sempre (2 Samuel 7:16). Esta promessa encontra seu cumprimento em Cristo, o descendente de Davi, cujo reino é eterno.

 O Cumprimento em Cristo no Novo Testamento

O Novo Testamento apresenta Jesus Cristo como o cumprimento dessas promessas e alianças. Ele é o descendente de Abraão através de quem todas as nações são abençoadas, o perfeito cumpridor da Lei mosaica e o Rei eterno da linhagem de Davi, de modo que Cristo Jesus é o Mediador da Nova Aliança.

1. Cristo como Descendente de Abraão

Paulo escreve em Gálatas 3:16 que as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência, e especifica que a "descendência" refere-se a Cristo. Assim, em Cristo, todas as promessas feitas a Abraão são cumpridas.

2. Cristo como Cumpridor da Lei: Em Mateus 5:17, Jesus declara que não veio para abolir a Lei, mas para cumpri-la. Ele viveu uma vida perfeita e sem pecado, cumprindo todas as exigências da Lei mosaica.

3. Cristo como Rei Eterno: O anjo Gabriel anunciou a Maria que seu filho, Jesus, seria dado o trono de Davi e reinaria para sempre (Lucas 1:32-33). Em Apocalipse 22:16, Jesus é descrito como a "Raiz e a Descendência de Davi".

Interpretação do Antigo Testamento pelo Novo Testamento

A partir da instauração da Nova Aliança a interpretação do Antigo Testamento é agora feita e realizada pelo Novo Testamento. As promessas e profecias do Antigo Testamento são vistas e cumpridas plenamente à luz da revelação de Cristo.

1. Interpretação Cristológica: O Novo Testamento frequentemente reinterpreta passagens do Antigo Testamento como referências a Cristo. Por exemplo, Isaías 53, que descreve o Servo Sofredor, é interpretado em Atos 8:32-35 como uma profecia cumprida pelo Senhor Jesus.

2. A Nova Aliança em Cristo: 

Jeremias 31:31-34 promete uma nova aliança, diferente da aliança mosaica, onde a Lei seria escrita nos corações das pessoas. O autor aos Hebreus (Hebreus 8:6-13) argumenta que esta nova aliança é realizada em Cristo.

 A Igreja como o Israel Espiritual

Paulo, em suas epístolas, desenvolve a ideia de que a Igreja é o verdadeiro Israel espiritual. Ele argumenta que aqueles que têm fé em Cristo são os verdadeiros filhos de Abraão.

1. Romanos 9 e Oséias: 

Em Romanos 9:25-26, Paulo cita Oséias 2:23 e 1:10 para argumentar que Deus chama tanto judeus quanto gentios para serem Seu povo. Ele usa estas passagens para mostrar que a promessa de Deus de um povo não se limita ao Israel étnico, mas inclui todos os que creem em Cristo, a Igreja, de modo que Paulo espiritualiza as promessas que são feitas a Israel no Antigo Testamento e as aplica a Igreja.

2. Gálatas 3:7-9: Paulo afirma que "os que são da fé, esses são filhos de Abraão" e que "Deus justificaria os gentios pela fé". Assim, a bênção de Abraão vem sobre todos os que creem, fazendo da Igreja o Israel espiritual.

3. Efésios 2:11-22: Paulo explica que em Cristo, os gentios que estavam afastados foram aproximados e tornaram-se co-herdeiros com os judeus. Através da cruz, Cristo criou um novo homem, reconciliando ambos com Deus e entre si.

A Analogia da Oliveira em Romanos 11

Paulo usa a analogia da oliveira em Romanos 11 para ilustrar a inclusão dos gentios e a esperança futura para o Israel étnico. Nesta metáfora, a raiz representa as promessas de Deus, e a oliveira como um todo representa o Israel espiritual crente no Messias.

1. Raiz como Promessas: A raiz da oliveira simboliza as promessas de Deus, que são realizadas em Cristo. Cristo é a base de todas as bênçãos e promessas divinas.

2. Oliveira como Israel Espiritual: A oliveira representa o povo de Deus, composto tanto de judeus quanto de gentios que creem em Cristo. Eles são enxertados na mesma árvore, compartilhando a mesma raiz das promessas de Deus.

3. Galhos Cortados: Os galhos cortados representam o Israel étnico incrédulo, que foi temporariamente endurecido devido à sua incredulidade. Paulo, contudo, enfatiza que eles podem ser enxertados novamente se não continuarem na incredulidade, como também afirma que no futuro por ocasião do Retorno de Cristo, o Israel étnico incrédulo será regenerado e salvo nos mesmo termos da igreja, ou seja, pela Fé em Cristo. (Romanos 11:23, 25-27).

Crítica ao Dispensacionalismo

O Dispensacionalismo é uma abordagem teológica que divide Israel e a Igreja em dois grupos distintos, argumentando que Deus tem dois planos diferentes para cada um. Essa visão, no entanto, é equivocada à luz das Escrituras.

1. Unidade do Povo de Deus: A Bíblia mostra que há um só povo de Deus. Em Efésios 2:14-16, Paulo explica que Cristo derrubou a parede de separação, criando um novo homem a partir dos dois, reconciliando ambos com Deus em um só corpo.

2. Promessas a Todos os Crentes: Gálatas 3:28-29 declara que em Cristo não há judeu nem grego, mas todos são um. Se pertencemos a Cristo, somos descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa.

3. Israel e Igreja como Um: A metáfora da oliveira em Romanos 11 ilustra que judeus e gentios crentes são partes de um mesmo povo. Não há dois povos distintos com dois planos separados, mas um só povo de Deus.

Considerações finais

Portanto A Nova Aliança mostra como as promessas e alianças do Antigo Testamento encontram seu cumprimento pleno em Cristo Jesus nosso Senhor. O Antigo Testamento é a promessa e o Novo Testamento é o cumprimento dessa promessa. Cristo é o descendente de Abraão, o perfeito cumpridor da Lei e o Rei eterno da linhagem de Davi. A interpretação do Antigo Testamento pelo Novo Testamento revela a centralidade de Cristo em todas as promessas de Deus. A analogia da oliveira em Romanos 11 reforça a unidade do povo de Deus, mostrando que a Igreja é o Israel espiritual. A visão dispensacionalista de dois povos distintos é refutada pelas Escrituras, que enfatizam a unidade de todos os crentes em Cristo. Assim, em Cristo, todas as promessas de Deus são "sim" e "amém" (2 Coríntios 1:20).

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Referências 

LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. 3. ed Revisada. São Paulo: Editora Hagnos, 2021.

ASSIS, Leonardo. Pré-Milenismo Histórico, Fundamentos da Escatologia Primitiva e Pós-Tribulacionista. 1°Ed. Rio de Janeiro: Editora Trinitatis, 2024.

WELLUM, Stephen J., PARKER, Brent E. Aliancismo Progressivo: Traçando uma Vida entre o Dispensacionalismo e o Aliancismo. Brasília, Dois Dedos de Teologia, 2020.

LADD, George Eldon. As Últimas Coisas. 3. ed. Vitória/ES: Base, 2021.

Diogo J. Soares



DIOGO J. SOARES

Doutor (Ph.D.) em Novo Testamento pelo Seminário Bíblico de São Paulo/SP (FETSB); Mestre (M.A.) em Teologia e Estudos Bíblicos pela Faculdade Teológica Integrada e graduado (Th.B.) pelo Seminário Unido do Rio de Janeiro. Possuí Especialização em Ciências Bíblicas e Interpretação pelo Seminário Teológico Filadelfia/PR (SETEFI). Bacharel (B.A.) em História Antiga, Social e Comparada pela Universidade de Uberaba (UNIUBE/MG). É teólogo, biblista, historiador e apologista cristão.

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