Os Erros Escatológicos do Ensino Amilenista: Uma Análise Bíblico-Teológica




A escatologia, estudo das últimas coisas, é um campo fundamental na teologia cristã, abordando a natureza do fim dos tempos, a segunda vinda de Cristo, o juízo final e o estado eterno. Dentro do escopo escatológico, o amilenismo é uma das perspectivas mais debatidas. Defendendo que o Reino de Deus não será estabelecido de forma literal na terra antes do fim do mundo, o amilenismo é visto por alguns como uma interpretação inadequada e deficiente das Escrituras. Neste breve artigo buscaremos examinar e criticar as premissas e as implicações do ensino amilenista à luz da Bíblia, a Santa Palavra de Deus oferecendo uma análise detalhada e teológica dos erros que este ensino pode conter.

1. Definição do Amilenismo

O amilenismo é uma doutrina escatológica que nega a existência de um reinado milenar literal de Cristo na Terra, como descrito em Apocalipse 20:1-6. Para os amilenistas, o "milênio" é visto como um período simbólico que representa a era atual da igreja, onde Cristo reina espiritualmente e não fisicamente. Esta perspectiva contrasta com o pré-milenismo e o pós-milenismo, que interpretam o milênio de forma mais literal.

2. Erros Escatológicos do Ensino Amilenista

2.1. A Interpretação Simbólica do Milênio

Os amilenistas interpretam Apocalipse 20 como um símbolo da atual era da igreja. Entretanto, essa abordagem enfrenta críticas por desconsiderar o caráter literal e profético do texto. Apocalipse 20:1-6 fala de um milênio, um período de mil anos durante o qual Satanás será preso e Cristo reinará com Seus santos. A interpretação simbólica tende a minimizar o significado claro e concreto das Escrituras.

Refutação Bíblica: Apocalipse 20 é frequentemente citado pelos pré-milenistas como uma descrição literal do reinado de Cristo. A descrição detalhada do milênio, incluindo a prisão de Satanás e o reinado dos santos, sugere uma realidade concreta, não meramente simbólica. O uso de linguagem literal é um princípio hermenêutico fundamental na interpretação das Escrituras (Apocalipse 20:1-6).

2.2. Negação do Reinado Literal de Cristo

O amilenismo rejeita a ideia de um reinado literal de Cristo na Terra, argumentando que o reino de Cristo é puramente espiritual e não geográfico. Isso ignora passagens bíblicas que falam de um reino literal e físico, prometido a Israel e estabelecido por Cristo.

Refutação Bíblica: Em Mateus 19:28, Jesus promete aos Seus discípulos que eles se assentarão em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. Esta promessa implica um governo real e físico, não apenas espiritual. Além disso, a profecia de Isaías 2:2-4 e Zacarias 14:9 fala de um reino de Deus que será estabelecido sobre toda a terra, um conceito que é difícil de conciliar com uma interpretação meramente espiritual ou simbólica.

2.3. A Falta de Reconhecimento das Promessas Salvíficas de Deus a Israel

O ensino amilenista frequentemente interpreta as promessas de Redenção feitas a Israel na Bíblia como sendo transferidas para a Igreja, um conceito conhecido como substitucionismo. Isso ignora uma certa distinção feita na Escritura entre Israel e a Igreja e as promessas de Redenção específicas feitas ao povo judeu.

Refutação Bíblica: Em Romanos 11:1-2, Paulo afirma que Deus não rejeitou o Seu povo, Israel. O capítulo 11 desta epístola claramente indica que as promessas a Israel ainda são válidas e que há um futuro salvífico para o povo judeu no plano Redentivo de Deus. A visão amilenista muitas vezes falha em considerar a continuidade das promessas feitas a Israel e como elas se relacionam com a Igreja.

2.4. A Ausência de Resolução Final do Mal

Os amilenistas acreditam que o reino de Cristo na Terra é espiritual e que a derrota de Satanás ocorreu na cruz. No entanto, a Bíblia descreve um futuro onde o mal será completamente erradicado e Satanás será lançado no lago de fogo (Apocalipse 20:10). A visão amilenista pode falhar em explicar adequadamente a relação entre a vitória final sobre o mal e o reino atual.

Refutação Bíblica: Apocalipse 20:10 descreve a vitória final de Cristo sobre Satanás e a destruição completa do mal. O ensino amilenista tende a minimizar a importância deste evento final, que é crucial para a resolução do conflito entre o bem e o mal conforme descrito nas Escrituras. A descrição detalhada de eventos futuros e a derrota final do mal indicam uma resolução completa que é mais bem compreendida em um contexto literal e futuro, em vez de uma visão puramente espiritual.

Conclusão

Portanto como analisamos a Luz da Palavra de Deus, o ensino amilenista oferece uma visão escatológica que nega a natureza literal e física do milênio e das promessas redentivas feitas  a Israel. No entanto, a interpretação bíblica mais precisa sugere que Apocalipse 20 e outras passagens escatológicas devem ser entendidas de forma mais literal e concreta. As falhas do amilenismo em reconhecer a literalidade do reino milenar, a continuidade das promessas de Redenção por meio Messias Jesus a Israel e a resolução final do mal apontam para a necessidade de uma abordagem mais equilibrada e fiel a Palavra de Deus. A escatologia cristã deve ser examinada com um olhar atento às promessas bíblicas e ao contexto profético, buscando uma compreensão que respeite a literalidade e a integridade das Escrituras.

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Referências

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Diogo J. Soares







DIOGO J. SOARES

Doutor (Ph.D.) em Novo Testamento pelo Seminário Bíblico de São Paulo/SP (FETSB); Mestre (M.A.) em Teologia e Estudos Bíblicos pela Faculdade Teológica Integrada e graduado (Th.B.) pelo Seminário Unido do Rio de Janeiro. Possuí Especialização em Ciências Bíblicas e Interpretação pelo Seminário Teológico Filadelfia/PR (SETEFI). Bacharel (B.A.) em História Antiga, Social e Comparada pela Universidade de Uberaba (UNIUBE/MG). É teólogo, biblista, historiador e apologista cristão.

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